Por Vicente Dattoli – Membro da CE do AIPS
RIO DE JANEIRO, Brasil, 15 de decembro de 2020.- Quase todos nós, jornalistas esportivos, que um dia trabalhamos em rádio acabamos recebendo um apelido que nos identifica junto aos ouvintes. Eu, modestamente, sou chamado de «o comentarista que vê o jogo para você». Um exagero, claro. Existem situações, porém, nas quais o chamamento se encaixa perfeitamente. Isso acontecia com o agora saudoso Orlando Duarte, que nos deixou nesta terça-feira, decorrente de problemas da Covid.
Orlando Duarte era conhecido por nós, leitores, ouvintes, telespectadores, como «O Eclético». E, ao citá-lo, já deixei bem claro a razão: Orlando atuou em rádio, televisão, jornais e, como o dia parecia ter 48 horas para ele, ainda encontrava tempo para escrever livros que qualquer jornalista esportivo tem a obrigação de conhecer.
Para que se possa ter uma ideia da carreira de Orlando Duarte, resumo dizendo que cobriu, in loco, 14 Copas do Mundo, dez Olimpíadas, inúmeros mundiais dos mais diversos esportes – sem falar que assinava uma coluna esportiva distribuída para vários jornais brasileiros e foi o autor da biografia oficial de Pelé, de quem era amigo particular, pelos muitos anos em que trabalhou no dia a dia do Santos.
Ecleticamente, como seu apelido o resumia, trabalhou nas rádios Bandeirantes, Jovem Pan, Trianon e Gazeta; nas tevês Cultura, Jovem Pan UHF, SBT, Globo, Band e Gazeta; nos jornais A Gazeta Esportiva, A Gazeta, Mundo Esportivo, A Gazeta Esportiva Ilustrada, O Tempo, Última Hora e Diário da Noite; além de escrever 32 (isso mesmo, 32) livros sobre os mais variados esportes e suas regras.
Nos 100 anos da FIFA, Orlando Duarte foi escolhido pela entidade para participar de seu documentário oficial (FIFA Fever). Além de um livro sobre a história das Copas, escreveu sobre o Palmeiras, o Corinthians, o São Paulo e a sua Portuguesa, a «Lusa», «Uma história de amor». Há pouco mais de um ano, sua mulher comunicou aos amigos que Orlando Duarte padecia de Alzheimer. Uma triste doença para quem fazia da memória seu principal patrimônio.
Tive a oportunidade de, algumas vezes, encontrar com «O Eclético» em coberturas. Bibliófilo, dizia que precisava de ao menos um autógrafo seu nos livros que possuía. Brincando, ele dizia que éramos colegas, «eu apenas um pouco mais velho», afirmava – Orlando nascera em 1932, na pequena Rancharia.
O autógrafo nunca foi dado, mesmo porque não sabíamos de antemão quando iríamos nos encontrar, mas seus livros e ensinamentos ficarão guardados para sempre no coração deste aprendiz de escritor e jornalista esportivo. Descanse em paz, Orlando Duarte.